quarta-feira, 10 de março de 2010

ESTÁDIO VERDÃO, O FIM DE UMA ERA

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O concreto vai virar pó. Literalmente. Milhões de momentos de alegrias, tristezas, nervosismo, amor, ódio, enfim, emoções infinitas serão transformadas em lembranças, apenas lembranças. A escolha de Cuiabá como uma das sub-sedes da Copa do Mundo de 2014 obrigou a busca pela modernidade, pelo novo, o funcional, tudo dentro dos padrões exigidos pela poderosa Fifa. E uma das ‘vitimas’ desta modernização é o símbolo maior do futebol de Mato Grosso, o Estádio Governador José Fragelli – o nosso Verdão – que vai dar lugar à uma nova (e polêmica) arena. É expectativa da maioria que o futebol e Cuiabá sairão ganhando com a nova obra, mas a destruição de um estádio tão tradicional é um pouco difícil de assimilar. Embora a fragilidade do futebol local não faça por merecer, é inevitável que o nosso lado emocional questione o porquê da não construção de um novo estádio em outro local, preservando o velho e tradicional palco.

Seja como for, a ‘destruição’ do estádio original marca o fim de uma Era no futebol de Mato Grosso, cuja história pode ser dividida em três capítulos: o amadorismo, o início do profissionalismo (em 1967) e a chamada Era Verdão (a partir de 1976). Na fase do ‘futebol amador’ o domínio foi dividido entre Mixto e Atlético Mato-grossense, com 13 títulos para o Alvinegro e cinco para o Atlético (entre 1943 e 1966). A partir do primeiro campeonato profissional o esporte ganhou novo impulso e deu origem ao movimento que reivindicava uma nova praça esportiva para atender a Baixada Cuiabana.

Conforme relata a publicação ‘Quatro anos de Verdão’, editada em 1980 pelo jornalista e historiador Macedo Filho, “a idéia da construção de um grande estádio de futebol nasceu em 1968” quando, sempre lotado, o Estádio Presidente Dutra, no bairro do Porto, não comportava mais a grandiosidade do então empolgante futebol cuiabano. A gigantesca obra começou a sair do papel em 1971, durante o governo José Fragelli, e foi concluída em 1976 na gestão Garcia Neto. Na inauguração, dia 8 de abril daquele ano, um quadrangular envolveu Mixto, Operário, Dom Bosco e Flamengo-RJ, que levou o título. Pastoril, no jogo Mixto 2 x 0 Dom Bosco, marcou o primeiro gol do novo Estádio – embora em uma ‘pré-inauguração’ o Fluminense tenha se apresentado no Verdão quando venceu uma seleção de Cuiabá por 2 x 0 com dois gols do ponta Gil (o Búfalo).

Do primeiro campeonato profissional – em 1967 – até 1973 o domínio foi do Operário de Várzea Grande, com cinco títulos. Depois disso, até a divisão do Estado, quem mandou no futebol do ainda integrado Mato Grosso foi o Operário de Campo Grande, com quatro conquistas. De 1979 até agora, Mixto e Operário dividem a hegemonia com 9 títulos cada, mas o interior vem ganhando espaço a cada ano em contraste com o inegável declínio dos nossos representantes mais tradicionais.

Pelo ‘tapete verde’ do imponente Verdão – impecável nos primeiros anos e nem tão bom assim nos dias de hoje – desfilaram grandes times e craques inesquecíveis. Ali a seleção brasileira se apresentou quatro vezes (sempre em amistosos) com a sua formação principal, sendo a primeira delas em 1980 quando sob o comando de Telê Santana venceu a Suíça por 2 x 0. Depois o escrete canarinho voltou ao Verdão em 1989 com a seleção da ‘Era Lazaroni’ quando derrotou o Equador por 1 x 0. Em 1992 o técnico Carlos Alberto Parreira dirigiu o Brasil que venceu a Finlândia por 3 x 1. Em 2002, também contra um adversário inexpressivo, a seleção de Luiz Felipe Scolari goleou a Islândia por 6 x 1 antes de partir para a conquista do penta na Copa Coréia-Japão.

A seleção foi sem dúvida seu mais ilustre visitante, mas o nosso Verdão também recebeu diversas outras equipes, craques, partidas e eventos de enorme importância. Tantos que, se fossemos relatar todos aqui, gastaríamos com certeza mais de uma revista inteira. Neste momento de expectativa para tão grande transformação, fica em todos nós que valorizam a história e seus acontecimentos um nó na garganta, um inevitável sentimento de perda. Porém, nada que não podemos superar em benefício de uma causa nobre. Assim sendo, que o velho palco seja sacrificado e que junto com a modernidade possamos ver o renascimento de um esporte mal-tratado, explorado e tão judiado nos últimos anos. Que o pó do concreto traga de volta o futebol de Mato Grosso!

fonte: Davi Cézar/Revista Espoint
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Publicado por: Fábio Ramirez

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