Clubes-empresa, verdadeiras ervas daninhas do nosso futebol
Por Igor França Garcia
Sempre fui um apaixonado por futebol e em meados dos anos 90 ouvi um termo novo à época, chamado “Clube-empresa”. Esse termo teve início na Europa em 1974, quando João Havelange se tornou presidente da FIFA.
A idéia do termo “Clube-empresa” tinha o intuito de tornar os clubes mais profissionais dentro e principalmente fora de campo, trazendo uma gestão profissional e administrativa de suas atividades, diminuindo assim os escândalos de enriquecimento ilícito de seus dirigentes e do crescente aumento das dívidas dos clubes, principalmente com seus governos.
Com a perda da força do regime comunista e quase toda a Europa se tornando capitalista, foi o momento ideal para fortificar o temo “Clube - Empresa”.
Mas voltando..., quando tinha meus 10, 12 anos e ouvi esse termo (Clube-empresa), do pouco que eu lia e entendia, me parecia algo muito bom para os times de futebol. Afinal, não veríamos mais clubes com problemas de falta de dinheiro, devendo jogador, presidente acusado de lesar o clube e meu time cresceria com isso. Até então, feliz, via com bons olhos...
Passados mais de 20 anos, hoje esse menino tem tristeza pela implantação dos clubes-empresa. O futebol é paixão e paixão não tem preço. Infelizmente, futebol hoje é “business” é negócio.
Time é time e não tem explicação. O amor que sentimos por eles é algo difícil de explicar. Até quando iniciamos a paixão por eles muitas vezes é algo sem lógica, mas foi amor à primeira vista. Às vezes, me vejo sorrindo para um distintivo estático na parede, sem vida, mas, que para mim, não sei como viveria se ele não existisse. Merece todo meu amor, carinho e respeito.
Às vezes, até gastamos financeiramente acima do racional para acompanhar esse distintivo. Abstemo-nos de reuniões familiares, para religiosamente acompanhá-los.
Mas veio a praga do clube-empresa. Hoje, times tradicionais perdem espaço para times que são criados de um dia para o outro, no intuito de revelar jogador e lucrar. Existem centenas de fundos de investimento que investem em jovens promessas, não por paixão pelo futebol, mas por negócio.
Essa praga do clube-empresa veio para destruir o amor e as tradições que o futebol tem. Os clubes-empresa não respeitam seus poucos torcedores. Assim como eu, muitos torcedores vão aos estádios levando a família, vestindo seus filhos com a camisa do time e com bandeira na mão.
Vejamos o exemplo do Grêmio Prudente, aliás, Prudente não, voltou a ser Barueri. A imprensa mineira ironicamente o denomina de Grêmio “Itinerante”. Esse time foi criado em Barueri e tinha uma parceria junto à prefeitura. Essa parceria foi desfeita e os “donos” do clube-empresa resolveram mudar de local e fecharam um acordo com a prefeitura de Presidente Prudente, que fica á 528 Km de Barueri. Esse time disputou o campeonato paulista de 2011 em Presidente Prudente e em 2012 a prefeitura reviu a parceira e o Grêmio retornou para Barueri. E ano que vem? Se duvidar vira até Grêmio Paraná e se instala em Londrina. E o “otário” do torcedor? Que gastou dinheiro com ingresso, camisa, fez a cabeça do filho para torcer pelo time... Como explicar para os torcedores, para a molecada que está entendendo de futebol, que vão ao estádio torcer e que esse ano o time foi embora e foi para outro lugar? Existe ex-cônjuge, mas ex-torcedor? Ex- time? Literalmente, acho que é a primeira vez que vejo o Clube dar as costas para o seu torcedor.
O Guaratinguetá-SP no ano de 2010, quando faltavam 10 rodadas para o fim da série B do Brasileiro, seus donos, achando que poderiam maximizar seus lucros, decidiram que no ano seguinte mudariam para a cidade de Rio Branco e fundariam outro clube-empresa, chamado de Americana. A população de Guaratinguetá se revoltou e o time foi obrigado a jogar o restante da série B na capital paulista (175 Km), pois os próprios torcedores passaram a torcer contra e com toda razão. Hoje, os torcedores se juntaram e recriaram o Guaratinguetá. Agora sim ele se tornou um Clube sem dono.
O próprio Operário de VG, infelizmente, para continuar existindo está se sujeitando á essa praga do futebol. E eu acho engraçado ouvir nas ruas e nas rádios as pessoas indignadas com a forma que o Operário LTDA está sendo conduzido. Gostaria de dizer a todos, que a empresa é do senhor Sebastião Viana e se ele quiser amargar prejuízo, o problema é dele. Ninguém está nem aí com título ou acesso. Alias, o torcedor quer ganhar títulos sim, mas o time não é mais de vocês. Ele tem dono. O negócio do dono é revelar jogador e ganhar com a transação.
BMG, grupo SONDA, TRAFFIC e etc, só visam lucro com futebol. O patrocínio é colocar jogador deles nos times e qualquer transação desse jogador o lucro é da empresa.
O antigo Mallutron, que hoje se chama J. Malucelli, foi a primeira erva daninha no futebol brasileiro, no ano de 2.000.
Os torcedores dos clubes-empresa tinham que ser chamados de clientes e deveriam ter embaixo do braço o Código do Consumidor e não Estatuto do Torcedor.
O que mais me deixa triste nesses clubes-empresa é o sucesso de alguns deles. Cada vez mais eles sobem de divisões, formam boas equipes (até porque tem muito dinheiro de seu dono), enquanto os clubes que tem história, tradição, torcida e com menos dinheiro, sofrem muito em divisões inferiores e muitas vezes jogando no prejuízo, correndo o risco de falência.
Por outro lado, alguns clubes-empresa não estão dando certo e estão servindo apenas para destruir a paixão e a história de times tradicionais, como o anunciado pelo OPERÁRIO de Campo Grande, que está em processo de extinção do seu CNPJ após tervirado clube-empresa e afundado de vez o clube que era do povo sul-mato-grossense. Uma pena. Boa parte da história do futebol dos dois Mato Grosso vai indo embora, juntamente com o Dom Bosco e particularmente do Operário-VG, que também virou empresa e está afundando.
Os clubes com tradição, centenários, que ajudaram a escrever a história do futebol brasileiro, que tem torcedores apaixonados e que tem como principal missão ganhar títulos estão ficando mais para trás, perdendo lugar para essas pragas de clubes-empresa.
Na economia, quem não tem competência não se estabeleça. Mas no futebol não... não destruam meu time por causa de dinheiro.
Acredito que muitos estão achando que estou com dor de cotovelo pelo sucesso de alguns rivais que são clube-empresa. Mas digo que não. Na verdade, muitos deles são até exemplo de gestão administrativa a ser seguido. Eles trouxeram a palavra gestão e planejamento para o nosso futebol. Só que a economia é cíclica e ela tem seus altos e baixos. Pode demorar ter seus baixos, mas um dia ela vem e quando isso acontecer quero ver se os donos dos clubes-empresa vão continuar a mantê-los, por amor ao distintivo e respeito ao seu torcedor. Infelizmente, quando isso chegar para a maioria dos clubes-empresa, muitos deles já terão destruído clubes centenários e manchado as páginas de títulos espalhados no Brasil.
São verdadeiras ervas daninha do nosso futebol. Deu certo na Inglaterra? Acho que não. Eles têm um futebol duro de assistir e um mundial que ainda por cima foi roubado. Nós temos 5 mundiais e boa parte deles na época que o amor vinha na frente do dinheiro no nosso futebol.
Fonte: Enviado ao Mixtonet pelo torcedor Igor França Garcia
05/07/2012
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Parabéns Igor! seu comentário é excelente. Isso tudo, além de prejudicar os clubes, tirou o público dos estádios. Um exemplo é o Operário, que tinha uma torcida imensa e que dividia com o Mixto lotação do Verdão.
ResponderExcluirParabéns à torcida mais crítica de Mato Grosso. Que o CD convide o pessoal a participar mais das reuniões para se fortalecer ainda mais o Mais Querido.
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