Domingo, 15 de Dezembro de 2002. Carlos Eugênio Simon apita o final de jogo e o Santos dava fim a um jejum de 18 anos sem títulos, com a conquista do Campeonato Brasileiro de 2002, o último da era dos "mata-matas" após bater o Corinthians, na final. Um jovem volante de apenas 21 anos é o responsável por erguer o troféu para uma equipe que tinha a juventude de seus jogadores como maior destaque. Paulo Almeida, atualmente com 31 anos, pode reviver este filme, novamente como capitão e outra vez em um clube que tem o branco e o preto estampado em sua camisa, o Mixto Esporte Clube, na Série D do Brasileirão.
Dez anos depois de uma das maiores conquistas de sua carreira, Paulo Almeida falou com o GLOBOESPORTE.COM sobre bastidores do grupo campeão em 2002, histórias da final da Libertadores de 2003 contra o Boca Juniors, quando "amarelou" o árbitro Jorge Larrionda. O volante também contou um pouco da sua história no futebol de Mato Grosso, onde ajudou outra equipe a sair da fila, assim como o Santos. O ex-santista também comparou as duas gerações dos "Meninos da Vila". Para ele, Diego e Robinho foram melhores, mas se rende ao talento de Neymar, a quem chama de diferenciado.
Paulo Almeida foi um dos destaques na equipe mixtense que garantiu no último domingo a classificação para as quartas-de-final da Série D. Mesmo com a derrota para o Remo por 2 a 1, o alvinegro conquistou a vaga, pois venceu os paraenses no jogo de ida por 2 a 0. Caso passe para as semifinais, a equipe garante o acesso para a Série C do Campeonato Brasileiro, e o volante terá feito parte da história de mais uma equipe vitoriosa no futebol nacional.
Paulo Almeida quer título brasileiro pelo Mixto (Foto: Leonardo Heitor/Globoesporte.com) |
Paulo Almeida: - Existia uma pressão muito grande não só dentro do clube, mas também vindo da torcida. Foi um período enorme sem títulos nacionais do Santos. Nos jogos na Vila Belmiro, os torcedores entravam protestando, com faixas de cabeça para baixo. A cobrança era forte. Mas no fim, deu tudo certo e eles lembrarão da gente como o grupo que tirou o time de uma fila de tantos anos - disse Paulo Almeida.
O que fez a diferença naquele grupo. Vocês se classificaram na oitava posição para o mata-mata. O que mudou da fase de classificação para a reta final?
Acabamos nos classificando em oitavo, graças ao Gama, que mesmo rebaixado, goleou o Coritiba por 4 a 0. Caso isto não ocorresse, o Cruzeiro entraria como o último qualificado, por uma combinação de resultados. Nós tinhamos começado o campeonato muito bem, mas tivemos uma queda, antes da fase decisiva. Acabamos nos reunindo antes dos jogos contra o São Paulo (que terminou a primeira fase como líder), pelas quartas-de-final. Lá, nós jogadores conversamos sobre onde estávamos errando e onde poderíamos melhorar, dentro de campo. Ainda bem que deu tudo certo. Depois do primeiro jogo, na Vila, quando vencemos eles por 3 a 1, fomos para a partida de volta no Morumbi e saímos novamente com a vitória, desta vez por 2 a 1. Isto deu uma confiança muito grande para a sequência do mata-mata e no fim deu tudo certo.
Você ainda tem contato com os jogadores daquela época?
Não muito, mas tenho. Naquela época eu tinha mais contato com o Renato, Elano, Léo e o Preto. A gente ficava mais junto. O Diego e o Robinho, por serem mais novos, tinham gostos diferentes dos nossos. Mas a gente se fala, sempre que possível. Recentemente mesmo falei com o Léo e o Renato, que voltou para o Brasil. É bem parecido com os tempos de escola. Você vê seu coleguinha alí, todos os dias. Depois, cada um segue seu caminho, buscando perspectivas diferentes para a sua vida e acabamos perdendo o contato. Mas a amizade que a gente fez foi muito grande. Sou padrinho de casamento do Renato.
E aquele episódio do cartão amarelo que você deu no árbitro Jorge Larrionda, na final da Libertadores contra o Boca Juniors? O que te levou a fazer aquilo?
Já falei várias vezes sobre isso (gargalhadas). O que aconteceu naquela final foi o seguinte. No lance do pênalti, que o árbitro daria o cartão para o Fábio Costa, quem tomou o cartão não fui eu, foi o Fabiano, nosso atacante. Ele me deu e na hora de devolvê-lo para o Larrionda, fiz aquela brincadeira, que ficou marcada e para onde eu vou, o pessoal sempre pergunta. Mas é aquela história. Já estava uns 47 minutos do segundo tempo, perdendo por 2 a 1 e com um pênalti contra, se eu fosse expulso alí, não faria a menor diferença. Mas foi uma reação totalmente espontânea, não foi nada planejado e até hoje todo mundo lembra.
Paulo Almeida no Santos (Foto: Diário de São Paulo) |
Não foi muito difícil porque a gente já se conhecia das categorias de base e desde lá eu já era o capitão. Sempre tive esse espírito de liderar, comandar o grupo. Hoje, aqui no Mixto, também sou o capitão. Apesar de naquela época termos alguns jogadores mais velhos, como o Léo, André Luís, Renato, Alberto e o Fábio Costa, o Leão, que era nosso treinador, acabou me escolhendo. Acho que foi justamente por isto. Mas era bem tranquilo. Não era porque eu era capitão que tinha tratamento diferente. A cobrança era a mesma e recíproca.
E como é para você, dez anos depois, poder ser campeão brasileiro, desta vez na Série D, com uma coincidência. Outro time alvinegro e novamente como capitão.
Para mim é uma felicidade muito grande. Por onde tenho passado, conquistei títulos. Ainda amo jogar futebol, que é o que eu gosto. Estou tendo a oportunidade de jogar no Mixto atualmente. Nunca joguei a Série D, e tem sido uma experiência muito positiva. Onde eu vou, o pessoal me reconhece e lembra daquele título de 2002. É muito gratificante e se tudo der certo, seremos campeões aqui e conquistaremos o acesso para a Série C.
Em 2003, num amistoso, você veio, ainda pelo Santos, disputar uma partida contra o Cuiabá e saiu lesionado. Foi a sua primeira vez na cidade?
Foi a primeira vez que pisei aqui, ainda no estádio Verdão, que agora está sendo reformado para a Copa do Mundo. Para mim não foi muito legal, já que sai machucado logo no começo da partida. Mas isso acontece. Em 2010, estive aqui no estado, pelo União de Rondonópolis. Acabamos como campeões estaduais, encerrando uma fila de 37 anos sem títulos da equipe, que nunca havia sido campeã em toda a sua história. Espero repetir o mesmo roteiro aqui no Mixto. A equipe é muito boa e tem jogadores bem conhecidos, como o Nonato, ex-Bahia, que é nosso centroavante e tem feito vários gols. Estamos trabalhando duro para levar o clube de volta para o cenário nacional. Quando você pergunta lá fora, nos outros estados, sobre o futebol do Mato Grosso, o Mixto é o mais lembrado, por toda sua história.
Paulo Almeida bate bola em treino do Mixto (Foto: TVCA) |
Acredito que o futuro a Deus pertence. Estive no começo do ano no Itumbiara, de Goiás, onde fizemos um trabalho muito bom. Tenho contrato aqui até novembro. Se chegar no fim do ano e eu perder a motivação pelo esporte, posso acabar deixando de jogar. Eu não sei, prefiro deixar nas mãos de Deus e ver o que o futuro me reserva.
Tem algum arrependimento na carreira?
Nenhum. Muita gente me pergunta o porque de eu não ter voltado para o Santos. Minha trajetória lá é muito bonita. Cheguei no clube ainda como juvenil, batalhando. A gente sabe que pra quem anda mais, sempre é mais difícil, mas consegui meu espaço. Tiramos o time de uma longa fila, sem conquistar títulos. Hoje, meu nome está gravado na história do Santos. Antigamente, no clube, quando você chegava no elevador social, tinham só as caricaturas do time do Pelé. Hoje, de um lado, continuam as antigas mas também tem a equipe de 2002, da qual eu fiz parte. Isto não tem preço. Sou muito feliz por tudo que a vida me proporcionou. Joguei na Seleção Brasileira, na Europa, entre outras coisas. Sou muito feliz pela carreira que tive.
Diego e Robinho ou Neymar e Ganso?
Pra mim, Diego e Robinho, com certeza. Foi com eles que tive oportunidade de jogar junto. Os dois naquela época nos ajudaram bastante e decidiram os jogos para gente. Fico com eles.
E o Neymar?
O Neymar a gente vê que é diferenciado. É craque e nasceu com o dom. Quando a pessoa nasce assim, tem tudo para ter grandes conquistas na carreira. Desejo a ele tudo de bom. Não o conheço pessoalmente. Na época que eu estava lá, ele ainda não havia chegado, por ser bem mais novo. Ele tem 20 e eu estou com 31. Mas vemos que é um garoto que está buscando o melhor e não pipoca de jogo. Está sempre disposto a jogar e ajudar a equipe do Santos. Isso é importante.
Tem alguma história curiosa daquela conquista de 2002?
O Diego e o Robinho aprontavam bastante. Não deixavam ninguém dormir. Nas vésperas de jogos importantes, parecia um desfile de moda no corredor do hotel. Era para mostrar a chuteira que usaríamos no dia do jogo. Ficavamos mostrando um para o outro. Foi uma parte da minha história muito bacana.
Fonte: Leonardo Heitor / Globo Esporte MT
11/09/2012